Entenda Por Que Jesus Amaldiçoou Uma Figueira


 Jesus Amaldiçoa Uma Figueira Inocente: Por quê?



Trataremos neste artigo de um questionamento comum sobre uma das histórias mais estranhas envolvendo os atos soberanos de Jesus enquanto esteve na terra. Muitos têm dúvidas do por que o nosso Senhor tomou uma atitude tão radical amaldiçoando uma figueira sem fruto. Afinal, não nos diz o próprio texto que a árvore não tinha frutos porque "não era tempo de figos"?  


Antes de iniciarmos, porém, é fundamental recordarmos que todo relato bíblico, para ser corretamente interpretado, deve ser lido sempre em harmonia com seu contexto. Observando essa regra elementar da interpretação das Escrituras dificilmente incorreremos em erros; e ainda garantiremos haver entendido a seriedade do que de fato o Espírito Santo quer nos ensinar aqui sobre fé, obras e juízo.


Onde a Bíblia Fala Sobre a Maldição da Figueira?


Dos quatro evangelistas apenas Mateus e Marcos foram dirigidos pelo Espírito a registrar o evento. Apesar da semelhança entre os textos, uma leitura combinada de ambos revelará detalhes distintos e muito importantes para encontrarmos a explicação para atitude severa de Cristo. Portanto, leiamos com atenção:

Mateus 21:18-22

Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, Jesus teve fome. E, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas não encontrou nada, a não ser folhas. Então Jesus disse à figueira: 

Nunca mais nasça fruto de você! 

E a figueira secou imediatamente.Quando os discípulos viram isso, ficaram admirados e disseram: 

Quando os discípulos viram isso, ficaram admirados e disseram: 

— Como a figueira secou depressa!

Ao que Jesus lhes disse: 

— Em verdade lhes digo que, se tiverem fé e não duvidarem, não somente farão o que foi feito à figueira, mas até mesmo, se disserem a este monte: "Levante-se e jogue-se no mar", assim será feito. E tudo o que pedirem em oração, crendo, vocês receberão.





Marcos 11:12-14, 20-26

No dia seguinte, quando saíram de Betânia, Jesus teve fome. E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, a não ser folhas; porque não era tempo de figos.

Então Jesus disse à figueira: 

Nunca mais alguém coma dos seus frutos! 

E os discípulos de Jesus ouviram isto.


[...]


E, passando eles pela manhã, viram que a figueira estava seca desde a raiz. Então Pedro, lembrando-se, falou: 

— Mestre, eis que a figueira que o senhor amaldiçoou ficou seca.

Ao que Jesus lhes disse: 

— Tenham fé em Deus. Porque em verdade lhes digo que, se alguém disser a este monte: "Levante-se e jogue-se no mar", e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.Por isso digo a vocês que tudo o que pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim será com vocês. E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem, para que o Pai de vocês, que está nos céus, perdoe as ofensas de vocês.[Mas, se vocês não perdoarem, também o Pai de vocês, que está nos céus, não perdoará as ofensas de vocês.]

Por isso digo a vocês que tudo o que pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim será com vocês. E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem, para que o Pai de vocês, que está nos céus, perdoe as ofensas de vocês.

[Mas, se vocês não perdoarem, também o Pai de vocês, que está nos céus, não perdoará as ofensas de vocês.]



Primeiras Impressões da História da Maldição da Figueira






À primeira vista poderíamos levantar uma série de conjecturas para entender o que Jesus fez à figueira. Adiantamos, contudo, que todas elas são exemplos do quanto é prejudicial interpretar a Palavra de Deus superficialmente. 

Primeiro, talvez o Senhor tenha ficado tão decepcionado por está com fome e não achar comida ali que descarregou sua frustração na árvore. Imaginem! Trabalhar tanto evangelizando Israel de ponta a ponta, está se dirigindo para sua última semana em Jerusalém antes da cruz, e nem mesmo ter uma simples necessidade física suprida!? Mas nosso Salvador, apesar de perfeitamente humano, não era movido por apetites carnais.

Quem sabe, então, Jesus secou a figueira apenas porque o podia fazer. Um pouco de exibição casual do seu poder impressionaria bastante seus discípulos. E de certa maneira não foi o que aconteceu? Podemos imaginar a expressão de surpresa daqueles homens quando exclamaram: "Como a figueira secou depressa!". Talvez até levaram as mãos à boca ou levantaram os braços empolgados. Mas esse não é o caráter do Filho de Deus.

E se ele matou aquela planta apenas para ter uma boa ilustração a fim de ensinar aos apóstolos sobre o poder da fé? "Vejam! Como eu fiz, vocês também vão ser capazes de fazer. Vamos ganhar o mundo com sinais iguais a esse." Com certeza Cristo fez uso da oportunidade para ensinar a necessidade de orar com expectativas elevadas, mas nem esta nem as demais suposições transmitem a verdade por trás da maldição lançada sobre a figueira.


O Contexto Anterior e Posterior à Maldição da Figueira



O momento agora é propício para resumirmos o contexto daquele acontecimento. De acordo com Mateus e Marcos, após uma longa viagem passando pela Judeia, sempre em direção a Jerusalém, Jesus e seus discípulos chegaram às aldeias de Betfagé e Betânia. Ali estava o Monte das Oliveiras, e deste era possível avistar Jerusalém lá embaixo, a cerca de 1Km. Era o primeiro dia da semana para os judeus (domingo, para nós). 

Jesus, então, decide descer imediatamente a Jerusalém. Ato contínuo seguem-se estes acontecimentos*:

  • O Senhor manda seus discípulos trazer para ele um jumentinho das imediações; 
  • Desce até a cidade, que é quando ocorre a Entrada Triunfal em Jerusalém; 
  • Vai até o templo, olha a grande movimentação de compra e venda de animais que antecipava a Páscoa;
  • Retorna para Betânia;
  • No dia seguinte desce a pé com os apóstolos, e no caminho amaldiçoa a figueira;
  • Vai novamente ao Templo e expulsa de lá todos os vendedores e cambistas;
  • Retorna novamente para Betânia, e seus discípulos, que antes já haviam se admirado no ato da maldição, comentam agora sobre o estado deplorável da figueira amaldiçoada por ele;
  • Jesus aplica lições da experiência da figueira.


A Grande Lição Por Trás da Figueira Amaldiçoada


Tudo o que foi incluído nos Evangelhos a respeito de Jesus de uma forma ou de outra envolvia o cumprimento de alguma profecia do Antigo Testamento. Porém, em nenhum outro momento dos seus três anos de ministério tantas profecias se cumpriram quanto na "Semana da Paixão", como é conhecido o intervalo do domingo onde entrou aclamado como Rei em Jerusalém até o domingo da ressurreição.

Cerca de 400 anos antes o profeta Zacarias anunciou que o Messias viria montado em um jumentinho (Zc 9:9); 1.000 a.C foi a vez de Davi antever a aclamação do povo ao reconhecer o Rei dos reis enviado pelo Senhor para reinar sobre Israel (Sl 118:25,26; Sl 8:2); Coube a Isaías e novamente Davi profetizarem do zelo do Messias pela Casa de Deus, a ponto de manifestar sua ira santa (Is 56:7; Jr 7:11; Sl 69:9). 

Mas, onde entra a figueira em tudo isso? Tudo leva a crer que a figueira amaldiçoada simboliza a nação de Israel. O povo da Primeira Aliança é chamado simbolicamente por muitos nomes na Bíblia, entre eles figueira. Passagens como Os 9:10 são exemplos da ligação profética dos judeus com a figura da figueira:

 Achei a Israel como uvas no deserto, vi a vossos pais como as primícias da figueira nova; mas eles foram para Baal-Peor, e se consagraram à vergonhosa idolatria, e se tornaram abomináveis como aquilo que amaram.

Sim, o povo escolhido, descendência de Abraão, Isaque e Jacó, devia a Deus obras dignas de arrependimento. Como a figueira em plena estação de frutos, mas desprovidos destes, a nação foi encontrada despreparada, e isso teria consequências eternas. Havia chegado a hora de Deus reclamar de Israel, sua figueira, o fruto esperado. O que Jesus encontraria?

Portanto, a grande lição da figueira é: Se Jesus amaldiçoou a figueira por não lhe servir de frutos fora da estação, o que faria a Israel agora que era chegado o tempo ideal daquela nação apresentar os frutos esperados por Deus e não estavam prontos? Jesus foi até a figueira e nada achou; desceu até ao Templo buscando o culto verdadeiro, aceito pelo Pai, e encontrou um "covil de salteadores".

Alguns teólogos defendem que Jesus purificou o templo duas vezes, uma no início do seu ministério (Jo 2:13-22) e a outra nessa última semana. Se for assim, então o Filho de Deus cobrou a verdadeira adoração do povo logo no princípio. Depois, por três anos, pregou o arrependimento, mas de nada adiantou. Lucas 13:6-9 é uma clara referência ao trabalho do Senhor com Israel sem o resultado esperado:

Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?
Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.


Por certo esse foi o motivo de haver Jesus chorado diante de Jerusalém ao ver o estado espiritual em que estavam aqueles que deviam reconhecer nele seu Salvador:

Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação.

 (Lc 19:41-44)


Outras Lições da Maldição da Figueira


Vimos como o contexto deu o sentido mais profundo do ato de Jesus condenar aquela figueira à morte. Porém, aos seus discípulos ele também falou sobre a importância da fé genuína, unida a oração, para podermos vivermos experiências além do natural no exercício da sua obra.

Isso não deve ser confundido com exibicionismo. Se os escritores sagrados quisessem ensinar com essa história sobre uma mera curiosidade do comportamento de Jesus não haveria mais nada a dizer do assunto. Aceitaríamos quaisquer das especulações mencionadas anteriormente e desenvolveríamos ministérios fantásticos. Seríamos cercados de multidões vindas de toda parte para ver os grandes sinais feitos por nós pelo poder da fé e da oração. Infelizmente ao que parece foi exatamente assim que entenderam muitos "profetas" e pregadores do nosso tempo.

Entendamos! A Igreja não a figueira da Deus, mas Jesus chamou a si mesmo de Videira Verdadeira, o Pai de Viticultor, e nós, de ramos ligados a ele (Jo 151-5). Ainda que muitos cristãos não creiam assim, na verdade o Senhor Jesus também espera frutos daqueles ligados a ele. E advertiu que a falta de frutos resulta em ser o galho separado e lançado ao fogo.

Será que isso significa que somos salvos pelas obras? De modo algum! O que Jesus diz é: Aquele que não permanecer em mim será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam." O segredo, portanto, é permanecer em Jesus.

Breve Jesus voltará para buscar seu povo escolhido, a Igreja pela qual derramou seu precioso sangue. Ele virá buscar o fruto do verdadeiro arrependimento em cada um dos galhos ligado a ele. Que nos encontre não como galhos mortos, pessoas cujo título de cristão não têm significado algum. 

O fruto que ele espera achar em nós são contrários as obras pecaminosas da carne. Eles estão alistados em Gl 5:19-22:

Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. 

E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos.


Conclusão

Como pudemos ver a maldição da figueira cumpriu um propósito muito além da experiência vivida pelos discípulos naquele dia. Ela foi deixada para nós como exemplo, como um sinal profético. Israel rejeitou o Cristo e secou. Os gentios e todo judeu que reconheceu em Jesus o Messias prometido recebeu vida eterna. 

Esta verdade é para hoje também. Jesus está procurando os verdadeiros adoradores do Pai. Ele vem até nós à procura de um culto santo, sem espetáculos, sem comércio, sem desprezo pela Palavra de Deus. Se ele encontrar nosso coração quebrantado, sincero e disposto a obedecê-lo tudo terminará bem. Afinal fomos chamados para sermos abençoados, e não amaldiçoados.

Podemos terminar lembrando da misericórdia de Deus sobre o povo da primeira Aliança. Um dia a "figueira" se renovará. Israel olhará para Jesus e reviverá. Enquanto isso, a Igreja de Cristo deve seguir não somente repleta de folhas em cuja sombra os homens se abrigam, mais cheias de frutos de justiça para a glória de Deus.



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